segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sinal

Eu ia aceitar mesmo que você fosse melhor que eu, que entendesse de uma forma tão simples aquelas sentenças, aqueles verbos que conjugasse tão bem as orações eu queria mesmo era poder contar as bobices dos meus dias enquanto você falava dos assuntos sérios do escritório, dos clientes, do médico, da sua família, eu queria era ser egoísta uns 30 minutinhos pra deitar no seu peito de aço e ser besta um pouco. E enquanto você falava eu me sentia tão pequena, todas as coisas sérias que você faz, e as pessoas importantes que você conhece as suas reuniões de negócios, seus ternos importados e tudo o mais que te fazia mais adulto do que eu. Eu parei pra entender porque vivíamos em mundos diferentes, das coisas que você nunca fazia pra não desagradar pra não se humilhar, pra não sempre pra não, eu queria que fosse pra sim, um sorriso espontâneo da minha piada sem graça que você parasse de vigiar pra se entregar um pouco.
Eu queria te desestruturar, derreter o aço te fazer humano te dizer das coisas bestas que eu faço e eu sempre olho pro céu pra ver se tem sol se tem nuvem se tem estrelas se tem anjos se tem vida, por um pouco mais de vida um pouco menos de tudo isso que você dá tanto valor, tanta matemática tanta conta e você nem sabe quantos corações tem dentro de você?Eu ia te contar antes da minha voz engasgar que eu escrevo e nem é pra desabafar é pra abafar que eu queria gritar mesmo o que tinha dentro você.
Você nem sabe que roupa eu usei ontem, que cor estão minha unhas talvez nem se lembre da cor dos meus olhos, e sabe sim do trânsito caótico do preço da gasolina, do almoço todo dia que você sempre reclama da comida que estava quente que estava fria, eu sentia mesmo que você estava tão repleto de metrópole de poeira de caos que eu nem cabia mais, não dava pra eu espanar todo aquele pó limpar toda a sujeira mostrar os quadros lindos na parada do farol, te dar um beijo antes do semáforo abrir, ouvir uma buzina do carro de trás avisando que farol abriu e dar um sorriso cúmplice que um beijo rápido de uma alegria demorada.
Eu vou chegar em casa buscar suas roupas na lavanderia reclamar com aquela moça da lavanderia cheia de espinhas que, esta tudo mal passado, ela vai anotar minha reclamação, eu vou comprar as frutas pra por no centro da mesa de jantar e encher de verduras a geladeira com todos os light diet e sojas que você toma por uma vida mais saudável como você diz, arrumar seus sapatos lustrar eles, ajeitar as camisas em ordem monocromática, deixar uma Gilette na pia junto com o creme de barbear e o pós barba, os chinelo ao pé da cama seu hobe na saída do banheiro seu pijama na cabeceira um leite quente antes de dormir, os dez melhores livros de aventura que você só vai viver nos livros mesmo, todos lá pra você ler seus óculos em cima deles, tudo certinho, porque você sempre chega tão cansado de tudo, e tudo tem que esta tudo em todos os lugares certo, porque a vida já ta tão no lugar errado é tanta loucura você fala.Eu vou deixar tudo ajeitado e vou embora talvez daqui há uns cinco anos você dê por minha falta, você vai parar no semáforo e perceber algo estranho não tem buzina no trânsito não tem beijo rápido, só o caos que você mesmo cria todos os dias.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Salto


Olhou bem no fundo dos olhos dele e disse que estava apaixonada, só disse isso porque o medo tomou conta dela o coração acelerou, quanto tempo não se apaixonava que sensação estranha que pessoa estranha se tornou com uma felicidade absurda! Só disse isso mais queria dizer todo o resto... que estava sim apaixonada e isso não viraria nunca amor, porque tinha prometido a si mesma que ela mesmo se bastava e por isso não precisa do amor e de amar mais ninguém, que já tinha amado demais e precisava de um pouco de paz, para se colocar em ordem, porque seu coração já estava  tão vazio sobrava tanto espaço e tava tão calmo lá.
Não queria ter que sentir saudades e sentir vontade de estar junto, não queria ter que sentir ciúmes e sonhar sonhos para uma vida inteira que acabariam antes de a vida acabar, não queria chorar não queria sofrer, e enfim não queria sua felicidade dependendo de outro. Queria a felicidade simples de um amanhã sem medos sem traições.
Tinha dentro de si uma fé tão estranha que tudo dependia apenas dela, que se apaixonar era dar um passo no vazio. Apenas não disse isso. Disse só que estava apaixonada e mais nada, e não queria estar e tentou resistir, tentou não sorrir quando ele sorria não querer beijar quando ele chegava perto, não querer abraçar quando ele aparecia, tentou em vão não estremecer ao toque dele e não se aconchegar naquele colo, só para poder parecer mais forte diante dele. Mas ele veio tão seguro com seu jeito tão honesto parecendo tão crente em tudo que derrubou toda a fé que ela tinha no que era conhecido, firme, certo mostrando o lado incerto o lado vivo.
Tinha mesmo que ser ele, porque parecia tão complicado porque entender ter certeza parecia tão duvidoso, seria sua mente doentia ou as feridas do seu coração que a colocam nesse dilema, queria mesmo poder cair de pára quedas com a certeza de não se esborrachar no chão, e repente a vida tirou todas as certezas te despiu novamente te deixou nua, assim surgem às paixões de repente e assim elas nos deixam completamente nus, porque só assim desprovidos de grandes vaidades de tantos medos, de todos os receios poderá se entregar cair, se for ao chão se for às nuvens se for flutuar, isso só mesmo o tempo dirá